Sala das vozes

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O Mistério de Hádia


“Vem, venha logo!” Ouvia a voz, entre todo aquele tormento, mas não podia identificar de onde vinha.

Perdida entre raios de fogo brilhando no céu vermelho, montanhas escuras formando uma silhueta fantasmagórica aofundo. Voando acima de sua cabeça dezenas de criaturas de asas negras, olhos vermelhos e bocas entreabertas. Investindo insanos sobre ela, caída em meio à poeira do solo árido. Aquele cenário infernal refletindo sobre seu corpo e os gritos de ira lasciva atormentando seus ouvidos. “Vem, estouaqui.” Venha! ”A voz. Um guia naquele caos. Um lapso de esperança no meio do medo que a consumia cada vez que uma das criaturas aladas, medonhas, chegava perto dela a encarando com os olhos esbugalhados. “Proteja seu pescoço! ”No instinto de se proteger as mãos foram ao pescoço, bem no momento em que uma das figuras investiu sobre ela, tentando morder logo acima de seu ombro. Sangue! Viu que vinha de suas mãos, atingidas pelos dentes da criatura. Dentes! Sim, caninos longos, bocas salivando, abertas indo ao encontro dela. “Me de sua mão! Aqui,segure!”Nesse momento conseguiu ver a pessoa a sua frente ou, ao menos, seu contorno, contrastando com o fundo rubro do céu. Era um homem, não... possuía asas, enormes e como as de um morcego... Olhos totalmente brancos que a fitavam com aflição. “Eu a protejo, venha. Eles querem você. “Deixe-me ajuda-la.” Ao dizer isso tentou abraça-la e protegê-las das investidas daquelas bestas assombrosas. “Não!”, disse ela. “Você é um deles! Saia!” Não conseguia distinguir a diferença entre aqueles que a atacavam e ele, a sua frente, tentando salvá-la. “Não, não sou um deles. Sou sua única esperança!” “Saia!”, disse ela com todas suas forças, no instante em que empurrou-o para trás, caindo prostrado a olhando com um misto de espanto e desespero. Ela, então, sentiu uma pressão enorme no pescoço, o corpo envolto por braços e pernas como que numa camisa de força e, ao mesmo tempo que um forte torpor tomava conta de seu corpo, a adormecendo da cabeça aos pés, sentiu escorrer pelos seu ombros, colo e seios um líquido rubro, denso...sangue....sim, seu sangue...“Hádia!Hádia! Abra os olhos garota.”

Num sobressalto levantou-se e, meio que cega pela repentina claridade, começou a despertar daquela confusão em que encontrava. “Acorde que vamos perder a carona”. Sim, a carona, sua amiga Rebecca, sua cama, seu quarto... Sim, foi um sonho. Novamente aquele sonho. Pela sexta vez seguida naquela semana. “Ai, já vou. Nossa tive um sonho horrível”. “Esquece e se apressa as meninas já vão passar por aqui” disse Rebecca. Ainda sentindo o corpo tenso, úmido de suor, levantou-se devagar, tentando ordenar seus pensamentos. “Pela sexta vez”, repetiu para si mesma. Escolheu uma roupa, básica, afinal iam apenas passar o dia nas montanhas, e foi ao banheiro. “Acho que você está precisando sair mais mesmo. Fica dias nesse quarto lendo”, disse Rebecca ao pegar um livro de uma pilha de uns dez

outros. “Magia. Você acredita mesmo nessas coisas? Desse jeito nunca vai fazer com que os outros não achem você estranha”, disse a amiga e riu. “Os outros. Pouco me importo” pensou. E estranha...”Estranhos são eles”, refletiu. Sua pele bem claracontrastava com seus cabelos longos, negros e lisos, que emolduravam o rosto de linhas tênues, assimétricas. Era bonita, exoticamente bonita. Mas não pensava nisso. Pensava na angústia que crescia dia a dia dentro de si, sem motivo aparente. E naqueles sonhos sombrios, diários.

“Você precisa sair desse quarto ás vezes garota. Só sai pra escola. Tem um mundo enorme ai fora sabia?” falou rindo sua amiga Rebecca. Era uma das poucas que a agradava. Achava na verdade que era uma das poucas que, mesmo sem a entender de verdade, não ligava para suas roupas quase sempre pretas, seus adornos de couro, metal, sua literatura “obscura” e seu gosto musical ímpar. A respeitava pelo que era, ou ao menos pelo pouco que mostrava do seu ser. “Mal posso esperar. As meninas disseram que tem um lugar lindo num desvio da estrada principal. Um vale com um lago. Isso pelo menos você curte, não é?” Sim, apreciava demais a natureza. Respeitava e por vezes até a venerava, como uma Deusa, já que nada mais a fazia sentir respeito.

Nem doutrinas, nem pessoas. “Elas vão demorar?” perguntou descendo as escadas de sua casa antiga, que ficava isolada no final da rua, próxima ao início da relva mais densa. “Já deviam estar aqui. Reclamaram um pouco de vir até aqui, mas eu consegui convence-las. Afinal você quase nunca sai”. E riu. “Minha tia já saiu?” “Sim, abriu a porta para mim e saiu”, disse Rebecca. Sua tia era a unica pessoa que tinha, depois da morte de seus pais enquanto ainda era bem menina. Era seu porto seguro, a única pessoa em que realmente confiava, sua amiga e, nas raras vezes em que decidia dividir alguma amargura de seu íntimo, sua confidente. Tinha 37 anos, uma carreira promissora como artista plástica e um amor por ela como se fosse sua filha. Amor em partes compartilhado por ela, mas não totalmente, pois amor não era um sentimento que ela julgava realmente possuir. “Come alguma coisa, depois vai ficar com fome”. “Não, deixa”-disse ela ainda sentindo no corpo as sensações do sonho que tivera.-“Aquele ser...tentando me ajudar. Um anjo?” “Vem, Hádia, elas chegaram”. A voz de Rebecca veio como um sino, a despertando daqueles pensamentos absortos. E, de mãos dadas com a amiga, saiu para o encontro das outras. Para o sol fraco daquela manhã fria de inverno.

“Ai Hádia, que longe você mora. Quase desistimos de vir aqui” disse Sâmia, que como Bianca que veio com ela, fazia cara de estafada, por ter que ir buscar a colega, que só saiu de casa no fim de semana por insistência de Rebecca. “Bem, não é tão longe” respondeu Hádia. “Vem vamos parar de conversa e sair, tá um dia lindo” disse Rebecca. Entraram no carro e partiram rumo a um dia de descanso, tão esperado por todas, menos Hádia que achava ultimamente tudo indiferente, sem emoção alguma para ela. Rodaram cerca de uma hora rumo às montanhas que, verdes e vivas, cortavam o azul do céu sem nuvens, formando um quadro, bucólico e leve. A vida em sua cidade era tranqüila, sem novidades para ela, pois as poucas coisas que aconteciam para ela não eram relevantes. Preferia seus livros: Magia negra, vampirismo, rituais obscuros. Herança de uma biblioteca que encontrou no porão de sua casa, logo que mudou da cidade grande em que morava.

Passado, mais ou menos, meia-hora, Hádia se dá conta que está à uns 10 metros do topo da montanha.”Vejam, gente!Já estamos chegando.” Chegando, depois de uns 10 minutos, vencida pelo sono, resolve dar um simples cochilo, voltando, novamente, à aquele sonho do qual sempre tivera sonhado. “De repente, ela acorda com Rebecca, chamando-a desesperadamente:” Hádia, acorda!Vamos rápido!”Hádia, assustada, pergunta o que houve.” Disseram que tem uma criatura rondando este lugar, aparentemente, um vampiro. ”Logo que Rebecca te dissera isso, ela se lembrou sonho. Flashes iluminando sua mente, imagens assustadoras que não a deixavam correr direito.

Correndo, com dificuldade, de mãos dadas com Rebecca, Hádia vê um vulto sombrio atrás de sua sombra, percebe que deveria ter mais ou menos uns 3 metros de onde elas estavam. Aparece a criatura de seus sonhos, um vampiro sanguinário, de alma comprometida com o diabo, de dentes caninos afiados e de boca cheia d’água. O medo a possuía. Mas ao mesmo tempo ficara hipnotizada pelos olhos vermelhos e sangrentos daquela pobre alma amaldiçoada.

“Venha, Hádia!Venha! ”“ Não, não vou, meu sangue não pertence a você.” “Me ajude Hádia, preciso de você!Salve-me dessa maldição.” Hádia, meia confusa mas ao mesmo tempo com pena, pergunta o que ela tem a ver com a maldição.Este diz, que durante séculos, ele procurava a reencarnação de uma feiticeira que, da qual, seria ela, somente Hádia poderia tirar toda a maldição que assombrava aquela pobre criatura. Completamente em duvida, Hádia achou que era brincadeira. O vampiro veio se aproximando dela, e numa vasta estendida de mão, Hádia jogou-lhe um raio violeta, deixando-o um perfeito humano, de olhos azuis, corpo de jovem de aparentemente uns 18 anos, cabelos negros e soltos, que, com o vento, balançavam suavemente. “Obrigado Hádia, você salvou minha alma, me livrou daquela maldita maldição.”-disse o homem-“Me desculpe, mas, qual seu nome, meu lorde?”-perguntou Hádia impressionada. - “Oh, me perdoe, como pude ser tão mal educado de minha parte. Chamo-me Franthiesco, sou príncipe da França, ao seu dispor minha donzela. ”-segurou a mão de Hádia, e deu um beijo apaixonante.“ Aí Hádia!Se deu bem, heim. ”-disse Rebecca cochichando em seu ouvido. - Suas amigas rindo de envergonhadas. Então Franthiesco a convida para jantar. Hádia, meio tímida, aceita o convite. Os dois saem de mãos dadas, e somem na escuridão da mata densa. Mas depois daquele dia, as meninas nunca mais viram Hádia.

Não sabem onde ela foi com aquele homem do qual ela se apaixonara loucamente.Houveram-se relatos que ela pode ter sido morta, que Franthiesco não tivera se livrado da maldição, e não resistiu a tentação de seu sangue quente, e a matado brutamente, deixando apenas, como vestígio, dois buracos em seu pescoço. Mas nada foi comprovado. Talvez ela pode ter saído com ele ou, até mesmo, se casado, buscando uma nova alternativa de vida. Não contando a ninguém. E se ela estivesse escrevendo esta história? O que me diz?




Autor(a): Henry/Lillyan

sábado, 2 de outubro de 2010

A Psicografia



Estávamos sentados em um túmulo, negro, largo, feito de mármore puro, quando veio uma pessoa, que da qual não consegui identificar a face. Em voz misteriosa e assustadora, nos disse que era-mos de mundos diferentes. Um não pertencia ao outro.
Mas eu sabia que, tinha em mim, um segredo valioso que, do qual, não poderia ser revelado a ninguém.Ele olhou para mim, com uma cara de desespero e que não queria se separar de mim, e eu muito menos dele. Mas era muito perigoso, tanto pra mim, quanto pra ele.
Corremos daquela criatura amedrontadora, e fomos para um bosque escuro, nebuloso e frio, onde não se ouvia os pássaros cantar. Encostei-me numa árvore, junto a ele, e contei que era um ser maldito,que não merecia ter vida. Peguei a faca, que em mim carregava, direcionei em meu pescoço.Imediatamente ele me arranca esta faca, e me diz para não fazer isto, que seria uma besteira, que merecia viver principalmente ao seu lado. Pediu-me para fazer o que fizeram comigo, porque se eu sofresse ele queria sofrer também. Não queria fazer isso, mas eu fiz. Me arrependo muito, mas não teve outro jeito.
Um ritual naquele bosque começara. Um clarão se propaga no céu, iluminando quase todo o bosque. Fomos jogados contra o chão. Quando, acordo, vejo ele pálido, igual a mim, louco por sangue. Este me agradece e diz que viverá para sempre em meu lado, sendo sepultado junto ao meu corpo. Amaldiçoados com uma estaca de madeira em nosso peito, num mesmo caixão.Hoje estamos mortos,juntos e sepultados como queríamos desde o início de nosso amor. Mas deixo psicografado aqui uma marca em nossa história. Uma coisa que marcou nossa vida. Um grande abraço de Lady Lillyan e Lord Mauro.