Sala das vozes

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Destino Obscuro

Em um passado muito distante, existia uma lenda. Todos a temiam. Não a citava em publico.
O órgão maldito que tocava todas as noites quando todos estavam em puro êxtase do sono profundo, onde só se acordava, em plena madrugada nebulosa, com o som deste instrumento fascinante.
O musico, ninguém nunca viu, sua origem, não sabem. O castelo mal assombrado de Lord Louis, um rei cuja sua origem fora dada por um cruzamento de uma humana e um vampiro, deu-se a origem ao Lycan que era. Diz a lenda que um grupo de jovens se arriscou a entrar no castelo, e nunca mais saíram de la. Hoje ainda escutam seus gritos junto com o misterioso som do órgão.
Certa noite, estava sozinha, estava em um tédio incomum. Olhei para o castelo, em plena madrugada, as 3hrs, a hora em que todos ouviam aquele som misterioso, decidi caminhar até ele.
Um velho, me parou e disse que se eu seguisse enfrente, nunca mais voltaria. Eu, teimosa, jamais acreditaria em um bêbado todo maltrapilho que o qual era. Não dei ouvidos e segui enfrente.
No caminho escutei uma carruagem, estava se aproximando muito rapidamente. Cavalos negros, musculosos, de passos firmes, vinham numa velocidade extrema. Guiados por um cocheiro que tocava um violino negro, com uma melodia nada comum. Seus olhos eram alegres, como se estivesse retirando a melodia de tua alma, embora, como a mesma, a melodia que saia do instrumento era melancólica, mas era tocada com exatidão, como se ele quisesse que todos ouviam.
A carruagem, então, parou na minha frente, onde o cocheiro deu a ultima nota do violino. A porta abriu sozinha. Com receito entrei. A nota fúnebre do violino veio a tona, e os cavalos relincharam, galoparam até o castelo. Rapidamente, cheguei. Desci da carruagem, o barro era muito grosso, mas a neblina era densa.
Dei-me de frente com uma porta, alta, de aproximadamente uns 3 metros de altura. Também se abriu sozinha. Em pé ante-pé caminhei pelo hall de entrada, era lindo. Um lustre negro parecia cair do teto, em forma de gotas. O tapete, surrado, parecia que a muito tempo ninguém habitara ali.
De repente o som do órgão junto com os gritos dos jovens ecoaram até mim. Era tão fascinante que me hipnotizei, o que me fez segui-lo. Subi as escadas, que ao colocar meus pés sobre, rangiam. Os corredores escuros que caminhei, as salas secretas que entrei, tudo ali era maravilhoso, móveis coloniais, embora preservados, estavam muito empoeirados. O som estava cada vez mais perto, até que vi no fim do corredor, numa grande sala cheia de castiçais, todos negros, de velas que pareciam chorar. E eu o vi. Um aristocrata de vestes ricas, que ao contrario de toda a mobília, estavam limpas e em perfeito estado. Ao lado, estavam os jovens que desapareceram durante muitos séculos.
Um deles era o cocheiro, que ao dar a primeira nota em seu violino, todos começavam a seguir. Parei e me escondi atras de um pedestal e fiquei apenas observando. O cabelo daquele Lord parecia uma cachoeira negra que despejava em pleno rio sangrento.
Ao dar a ultima nota, levantou-se, e olhou para mim e disse:
-Venha até mim.
Estendi minha mão até ele, não senti medo, apenas admiração. Colocando suas mãos em meu rosto, pude ver seu olhar de apelo e solidão.
-Sois perfeita, sinto suas veias pulsarem, ouço o sangue passar pela sua artéria. Sinto o cheiro do mesmo. É como um vinho tinto. Sois Ardat?
Me perguntei como sabia meu nome, eramos de outra vida? Me assustei tanto que quando me dei conta, ja estava morta, apenas com uma cravada de dentes em meu pescoço. Meus olhos viram a plena escuridão. Tudo se apagou, o nada finalmente me fez sentido.
Amanheceu, e eu estava em casa, sentia meu coração bater, mas sabia que já estava morta. Levantei e me olhei no espelho. A palidez era tanta que nem pó compacto ajudava. O sol era intocável, me ardia ao olhar e ser tocada por ele. Fiquei trancada em casa até a meia-noite.
Para a surpresa de todos, o órgão havia tocado mais cedo, e eu novamente em êxtase o segui. E eu o vi na sala novamente com os jovens. "Então não foi um sonho". Eu fazia parte deles. Louis veio em minha direção com um violino, eu não sabia tocar, mas com a primeira nota do cocheiro, as notas saiam da minha mão como uma hipinose.
Eramos marionetes daquele Lord, ele nos criava e nos dava sangue apenas para tocarmos para ele. Quando toda a sinfonia acabou, apaguei novamente.
Na manha seguinte, estava em casa novamente, e fiz todo o percurso novamente na madrugada embora com o intuito de fazer a pergunta  de por que todos permaneciam acordados e apenas eu devo ir embora.
A hora então chegou, estava confusa, embora determinada. O percurso fora feito todo novamente. Antes da sinfonia acabar, eu acordei e sai da hipinose, e disse:
-Por que somos vossas marionetes? O que queres de nós? Porque devo ir embora enquanto todos permanecem acordados e adormecem aqui?
Ele caminhou até mim solenemente, seus passos vinham com o toque de uma caixinha de musica ao fundo, estava em um mundo psicótico. Olhou para mim e disse:
-Olhe para ti, sois perfeita, não merece ser castigada como os outros. Sois Ardat Lili, minha noiva, que retornou de outra encarnação mas que tem o coração prometido a outro.
Tudo em mim fazia sentido. Mas estranhamente eu o amava. Sentia algo por ele. Minhas vestes se transformaram em um vestido longo, vinho, com detalhes enegrecidos. "O que está acontecendo?" Disse a ele:
- Lord, eu sinto algo por ti, mas estou confusa. Naquela noite, a sinfonia soou mais cedo, o que houve?
- Eu queria poder te olhar por mais tempo, pois o sol da manha a mataria se ficasse aqui. Todos são como a Fênix, renasce das cinzas, mas você ainda é muito frágil, precisa de cuidados, precisa ficar segura, MiLady. Sabe estas vestes? Eram suas no passado. Seja minha rainha novamente.- Disse ele em tom fúnebre.
-Serei para toda eternidade MiLord. Se me permitir, é claro.
Estava confusa, mas era isso que eu queria sem pensar mais do que duas vezes. Em um beijo quente estávamos. O amor para mim fazia sentido novamente. Ele era tudo para mim.
Um tempo depois, minha vida acabou. Vi Louis ser morto com uma estaca no coração, e vários vampiros se degustando de seu sangue. Me senti um lixo, me desesperei. Mas todos vieram em minha direção, tive de fugir. Quando consegui despista-los, voltei ao lugar, sabia que era perigoso, mas eu precisava vê-lo. Cheguei bem perto deles, desejava que seus olhos abririam,  queria escutar seu ultimo suspiro, mas desta vida, ele não pertencia mais.
Hoje, sigo a eternidade em plena solidão, pois o único homem que amei se foi junto com o meu sentido de vida. Mas aprendi uma coisa: Se você foi forte para superar, então você é forte para seguir sozinho.

domingo, 22 de setembro de 2013

Os Anjos

Trajando em luto estava andando em meio a noite fria. Apenas observando o movimento da rua. Como solitária sempre fui, não tive medo de nada. Avisto pessoas correndo, evitando, ao máximo, se molhar com a chuva densa que caia.
De repente um grupo de pessoas, cujo o rosto não conseguia enxergar, chegam a minha volta e me cercam, aparentemente umas 20 ou mais. O susto e o panico fora tanto que desmaiei.
Um tempo depois acordei e me encontrei numa espécie de casa abandonada. O cheiro de ferrugem e podridão era impressionantemente forte. Logo a frente avistei um grupo de pessoas encapuzadas com um simbolo estranho, aparentemente um símbolo que parecia estar escrito "An".Uma delas virou e notou que havia despertado e veio até mim. Era noite ainda e não tinha como eu ver seu rosto. Junto com aquela criatura vieram os outros então.
Se prostraram diante de mim, como se fosse uma rainha. Disse um deles:
-Está pronta rainha? Nos permite vos despertar para a realidade?
E eu sem nada a dizer, senti algo sair de minhas entranhas e queimar-me como o fogo em meio a caldeira. Apenas senti que saiu de mim "faça-o agora" e tudo se apagou.
Sentia meu corpo queimando como se estivesse saindo uma chama de dentro de mim, estava em pleno fogo, sentia como se minha alma mortal estivesse queimando e estivesse vestindo a blusa de outra alma imortal que ja estava ali a muito tempo.
Assim como a chama veio, fora embora de repente. Me sentia mais forte e vulnerável. Desejei que todos estivesse mortos e num piscar de olhos, todos estavam caídos.
Segui meu percurso como se nada havia acontecido. Pelo mais incrível de tudo, o remorso não me veio no coração. Eu amava fazer aquilo. Eu tinha o controle de tudo. Eu era o controle de tudo.
Estava amanhecendo e o sol estava me cegando. Corri para casa e fechei todas as portas e janelas, esperei até a noite.
Quando a escuridão caiu, olhei para a janela e estavam todos ali parados novamente, me espantei de certo, mas sabia que eu, assim como eles, não era mais humana. Desci e perguntei o que queriam. Tudo o que me entregaram fora um sobretudo com o simbolo "An", bordado cuidadosamente, assim como nos outros, no couro. Perguntei o que significava. Todos se prostraram e apenas um disse:
-Você agora pertence aos Anjos, minha Rainha. Ressuscitamos você apenas para tomar conta de nos enquanto fazemos as rondas em busca de malfeitores.
-Mas o que são vocês? Eu vos matei ontem, e agora, vieram até mim como se nada tivesse acontecido.-Disse eu estupefata.
-Somos uma seita, defendemos os humanos dos malfeitores como ladrões, estupradores entre outros tipos, nos alimentamos do sangue e ódio dos mesmos. Logo descobrirá os vossos poderes, e triunfará como antes. Sois uma rainha, a nossa rainha.
Me senti importante como nunca antes. Estávamos, então, andando pelas ruas, quando avistávamos alguem fazendo o mau. Eles me disseram para me esconder no lugar mais escuro que eu encontrava. Teria que ser invisível se possível. Então escalei rapidamente um sobrado e fiquei em cima do telhado. E todos estavam dispersados, apenas observando o homem encapuzado que estuprava uma jovem. Quando ele a levou para casa e seguiu seu caminho sozinho, o cercamos. Eramos em 25, não havia escapatória.
-Não devia estar sozinho.-Um disse.
-Os anjos o observam, mas nem sempre estamos ao seu favor.-disse o segundo.
-Não se arrepende de seus pecados? - disse outro que estava em cima do muro logo atras do homem.
-Não sei o que são vocês, mas deveriam ter cuidado comigo.-disse o homem.
-Sério? Valentão até com os Anjos. Ahahaha!!!! Tenho pena de ti. - disse o homem do muro.
Todos os cercaram e o levaram para um beco, onde em forma de siringa, aplicou-lhe uma espécie de sonífero.
O homem que me entregou o sobretudo, cujo nome era Friederick, disse:
-Este é para sua estréia em nosso grupo, minha rainha.
O levamos para um matagal, onde não existia nada e nem ninguém. Amarramos o homem na árvore mais próxima. E esperamos ele abrir os olhos. Ocorreu então. Levantei-me e disse em voz alta:
-Vis videre quam mortem?- essas palavras saíram de mim como se não fosse eu. Não sabia, nem ao menos, falar latim.
Estão, o torturei. Cortei seus dedos, arranquei sua artéria, e por fim as fiz como se fossem canudos. O êxtase era extremo. Aquele suco incomparável passava pela minha garganta e esquentava meu corpo.
O remorso, por sua vez, não veio a tona. Então o levaram para um lugar e me pediram para ir, eu disse que não queria saber aonde o levariam, apenas que não deixassem pistas.
O sol ja estava nascendo, e eu estava quase me cegando. Disse a todos então que iria para casa.
Tudo naquela noite foi mágico, eu era um ser incomum. Uma espécie de vampira em busca de sangue e ódio, os fatores que me tornam forte.
Os Anjos vivem entre nós, nos lugares mais escuros que existem. Você não pode ver, você não pode toca-los, apenas pode senti-los. Eles te observam, meu caro. Apenas tome cuidado.
Vis videre quam mortem?