Sala das vozes

domingo, 22 de setembro de 2013

Os Anjos

Trajando em luto estava andando em meio a noite fria. Apenas observando o movimento da rua. Como solitária sempre fui, não tive medo de nada. Avisto pessoas correndo, evitando, ao máximo, se molhar com a chuva densa que caia.
De repente um grupo de pessoas, cujo o rosto não conseguia enxergar, chegam a minha volta e me cercam, aparentemente umas 20 ou mais. O susto e o panico fora tanto que desmaiei.
Um tempo depois acordei e me encontrei numa espécie de casa abandonada. O cheiro de ferrugem e podridão era impressionantemente forte. Logo a frente avistei um grupo de pessoas encapuzadas com um simbolo estranho, aparentemente um símbolo que parecia estar escrito "An".Uma delas virou e notou que havia despertado e veio até mim. Era noite ainda e não tinha como eu ver seu rosto. Junto com aquela criatura vieram os outros então.
Se prostraram diante de mim, como se fosse uma rainha. Disse um deles:
-Está pronta rainha? Nos permite vos despertar para a realidade?
E eu sem nada a dizer, senti algo sair de minhas entranhas e queimar-me como o fogo em meio a caldeira. Apenas senti que saiu de mim "faça-o agora" e tudo se apagou.
Sentia meu corpo queimando como se estivesse saindo uma chama de dentro de mim, estava em pleno fogo, sentia como se minha alma mortal estivesse queimando e estivesse vestindo a blusa de outra alma imortal que ja estava ali a muito tempo.
Assim como a chama veio, fora embora de repente. Me sentia mais forte e vulnerável. Desejei que todos estivesse mortos e num piscar de olhos, todos estavam caídos.
Segui meu percurso como se nada havia acontecido. Pelo mais incrível de tudo, o remorso não me veio no coração. Eu amava fazer aquilo. Eu tinha o controle de tudo. Eu era o controle de tudo.
Estava amanhecendo e o sol estava me cegando. Corri para casa e fechei todas as portas e janelas, esperei até a noite.
Quando a escuridão caiu, olhei para a janela e estavam todos ali parados novamente, me espantei de certo, mas sabia que eu, assim como eles, não era mais humana. Desci e perguntei o que queriam. Tudo o que me entregaram fora um sobretudo com o simbolo "An", bordado cuidadosamente, assim como nos outros, no couro. Perguntei o que significava. Todos se prostraram e apenas um disse:
-Você agora pertence aos Anjos, minha Rainha. Ressuscitamos você apenas para tomar conta de nos enquanto fazemos as rondas em busca de malfeitores.
-Mas o que são vocês? Eu vos matei ontem, e agora, vieram até mim como se nada tivesse acontecido.-Disse eu estupefata.
-Somos uma seita, defendemos os humanos dos malfeitores como ladrões, estupradores entre outros tipos, nos alimentamos do sangue e ódio dos mesmos. Logo descobrirá os vossos poderes, e triunfará como antes. Sois uma rainha, a nossa rainha.
Me senti importante como nunca antes. Estávamos, então, andando pelas ruas, quando avistávamos alguem fazendo o mau. Eles me disseram para me esconder no lugar mais escuro que eu encontrava. Teria que ser invisível se possível. Então escalei rapidamente um sobrado e fiquei em cima do telhado. E todos estavam dispersados, apenas observando o homem encapuzado que estuprava uma jovem. Quando ele a levou para casa e seguiu seu caminho sozinho, o cercamos. Eramos em 25, não havia escapatória.
-Não devia estar sozinho.-Um disse.
-Os anjos o observam, mas nem sempre estamos ao seu favor.-disse o segundo.
-Não se arrepende de seus pecados? - disse outro que estava em cima do muro logo atras do homem.
-Não sei o que são vocês, mas deveriam ter cuidado comigo.-disse o homem.
-Sério? Valentão até com os Anjos. Ahahaha!!!! Tenho pena de ti. - disse o homem do muro.
Todos os cercaram e o levaram para um beco, onde em forma de siringa, aplicou-lhe uma espécie de sonífero.
O homem que me entregou o sobretudo, cujo nome era Friederick, disse:
-Este é para sua estréia em nosso grupo, minha rainha.
O levamos para um matagal, onde não existia nada e nem ninguém. Amarramos o homem na árvore mais próxima. E esperamos ele abrir os olhos. Ocorreu então. Levantei-me e disse em voz alta:
-Vis videre quam mortem?- essas palavras saíram de mim como se não fosse eu. Não sabia, nem ao menos, falar latim.
Estão, o torturei. Cortei seus dedos, arranquei sua artéria, e por fim as fiz como se fossem canudos. O êxtase era extremo. Aquele suco incomparável passava pela minha garganta e esquentava meu corpo.
O remorso, por sua vez, não veio a tona. Então o levaram para um lugar e me pediram para ir, eu disse que não queria saber aonde o levariam, apenas que não deixassem pistas.
O sol ja estava nascendo, e eu estava quase me cegando. Disse a todos então que iria para casa.
Tudo naquela noite foi mágico, eu era um ser incomum. Uma espécie de vampira em busca de sangue e ódio, os fatores que me tornam forte.
Os Anjos vivem entre nós, nos lugares mais escuros que existem. Você não pode ver, você não pode toca-los, apenas pode senti-los. Eles te observam, meu caro. Apenas tome cuidado.
Vis videre quam mortem?

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