Sala das vozes

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Cemitério do Abandono

          Era uma noite escura, penumbra, onde apenas ouvia o canto dos corvos. A rua desaparecia em meio a neblina densa. Havia uma menina, misteriosa, de vestes negras e pele mais clara que a penugem da coruja que passara por ali. Seu sapato fazia ecos em meio asfalto.
     Seu destino era o Cemitério do Abandono, passaria a noite toda, dormiria em um túmulo e não se preocuparia com quem estivesse a sua volta.
     De repente foi surpreendida por um vulto, olhou, não viu nada de anormal, afastou-se e logo seguiu seu caminho. Novamente o vulto retornou, ela ignorou e voltou ao seu percurso, mas com rapidez, estava com medo, seu coração de fogo congelou e seu corpo ficou tremulo. Escutou uma voz, que disse:
     - Venha até mim, não tenha medo.
     Ela correu mais rápido do que pode, superou seu limite, seu sobretudo pairava pelo ar como se fosse as asas de um corvo em meio ao luar, sem ar, não aguentou, não conseguia respirar, por mais que tentasse, sem oxigênio caiu em meio a guia do asfalto e não viu mais nada.
     Um tempo depois, acordou em cima de um túmulo, a seu lado, uma carta. Abriu então aquele papel tão delicado mas com uma precisa gota de sangue seco. Distraída estava olhando para o papel, algo lhe tocou, de tanto medo, esquivou-se e não olhou para trás, ficou imóvel por um tempo. A mesma voz fúnebre soara em seu ouvido novamente, desta vez com um ar esperançoso:
     - Ajude-me, preciso de ti.
     A jovem novamente correu pelos arredores do cemitério, mas a agonia tomava conta de ti, pois não achava o caminho para sair de tal tormento.De repente algo a lançou contra a parede onde a mesma bateu com toda a força, por um momento pensou em estar completamente paralisada, mas logo tomou sustento em suas pernas. Olhou para aquela figura horrenda de rosto sujo e pele pálida, embora delicada, com olhos pedindo apelo.
     Chegou perto dela, pegou em suas mãos, seu toque era frio, ela pode sentir o que era a morte.
     -O que você quer de mim, diga logo, não aguento mais, minha alma ja se esgotou, se quiseres me levar para o inferno, leve, mas por favor acabe com o meu tormento - disse a menina esgotada.
     - Não, minha nobre garota, o inferno é o proprio aqui. O inferno é o que eu vivo, dias após dias querendo apenas encontrar a luz da qual todos dizem, buscando o sossego e o sono eterno. - disse a pobre alma.
     - Mas porque ainda não encontrou?-Perguntou a jovem.
     Ele chegou perto de ti, olhou em seus olhos e disse:
     -Por causa de apenas uma coisa, o amor. Sim, minha querida mortal, pensas que quem morre, encontra a luz direto, não é bem assim. Estou aqui por causa que não consigo um funeral digno a minha amada. Não consigo ve-la daquele jeito em decomposição, não suporto vê-la tão destruída. Ajude-me eu vos peço, por favor.
      -Acalme-se, darei um jeito.
     A menina, confusa, mal conseguia se mexer por causa da colisão com a parede, mas seu coração era nobre, cavou então um buraco, pegou o corpo que já estava em decomposição avançada, e la colocou. Tampou e colocou uma rosa.
     - Sabe esta rosa? Serve para lembrar de como ela fora em vida, delicada e viva. Mas que um dia mexeram em sua estrutura e o pior lhe aconteceu. O que quero dizer é que, todos somos que nem uma rosa, vivos por fora, mas delicados por dentro. Para o fim chegar para nos, basta apenas nos balançar que aos poucos no decompomos e viraremos pó para todo o sempre.
     Um raio de luz se transformou em fogo em volta ao tumulo, com o susto a jovem pulou para trás, e como uma fênix renasce das cinzas, a amada daquele pobre rapaz surgiu em meio as chamas. Pegou sua mão, e o levou direto para debaixo da terra.
     Em panico, a pobre menina correu para a frente do cemitério achando a saída e voltando o mais rápido que pode para sua casa e de la não saiu por um bom tempo.
     Passado 5 anos depois, a jovem que virara uma mulher, sofrera uma morte na família, sua mãe morrera, e o destino do seu corpo era o Cemitério do Abandono. Ao ver enterrando-a, chorou, e fora levada pelos parente para longe dali. Seguindo pela estrada de terra, avistou a um tumulo uma carta. Disse aos parentes para seguirem que ela estava melhor e que queria ao menos ficar sozinha por alguns instantes.
     Os parentes se afastaram, e em seguida foi sentido ao tumulo, abriu a carta. Escrita a sangue, mas em papel tao delicado, dizia:
"Obrigado por me dar o sossego eterno."
     Sua alma sangrou mais uma vez, e embora dali se fora. Onde nunca mais souberam de nada. Quem sabe ela pode ou não estar escrevendo este conto ou ao menos estar olhando para você neste momento. Nada se sabe sobre o outro lado da vida!

Nenhum comentário:

Postar um comentário